Caminhávamos juntos numa cegueira ingênua e solitariamente solidificada. Minhas melodias limparam com cotonete seus olhos, suas letras lavaram as pontas dos meus dedos finos para que tocassem de maneira exata a pele de seu ombro esquerdo.
Em um dia de chuva ele transbordou seu balde de letras num corredor povoado de corpos. Eu fugi engasgada com sua voz que me gritava e sentia, à conta-gotas, minha agonia. Calei. Chorei.
Ainda o procuro na solidao de minha mente povoada de atos e fatos. Procuro sua pele, seu corpo e sua língua tagarelando uma cançao antiga de um sertanejo velho, esquecidamente melódica e triste. Hoje a direçao daquela chuva mudou para o lado de cá e lavou-me o rosto. Filha de um tempo errado, em eterna desavença com Cronos, conto agora as mesmas gotas, mas ele.. bem, ele se esgotou de esperar.