09 juin, 2008

agotada

sustenidos na voz arrepiam-me a pele e o lábio fica mudo enquanto a dor grita na poeira de peito. ontem eu falava do trágico azul no vermelho da foto, cleopatrizando a vida como se ela fosse só um filme esculpido pelos olhos escuros de godard. (se bem que de godard, bressane não tem nem o pó do cheiro). no vai e vem do menininho no canto esquerdo da cena, corro, pego a chave atrás da porta e saio correndo num solavanco sério, talvez cego, de finesse triste que arrebata-me num choro e rouba-me das mãos a bendita. fico sempre assim, sem teto, sem chão. a análise da vida poderia servir-me de planos e contra-planos sem a estupidez do dia a dia apertado. caminhando lento posso até enxergar a cor da bunda da formiga, que dorme no pedaço de açúcar que esqueceu de levar.

essa correria sórdida é de um estado opaco, como a chuva que me caía na frente da janela, no condomínio Miguel Sutil, e me escondia da vista o Centro de Eventos Pantanal, que era quase ali de tão longe.

minha voz espelha o mundo que me sobe à garganta e me espreme os olhos moídos.

desço, e não há chuva nas superquadras.